segunda-feira, 26 de maio de 2008

Alvorecer de uma sandice

Typhos era um pobre pastor das Gloriosas Terras entre o Tigre e o Eufrates, a Nação Mais Próspera do Mundo™. Um dia, enquanto conduzia suas ovelhas por uma região montanhosa, sua atenção foi subitamente capturada por algo reluzente; abaixando-se para ver o que era, descobriu um pedregulho amarelo e faiscante, diferente de qualquer outro que ele já houvesse visto. Maravilhado com o brilho daquela estranha pedra, guardou-a em seu manto e, aquela noite, decidiu mostrá-la a seu pai.

- Honrado pai – disse ele – Hoje, durante minhas tarefas diárias, encontrei algo maravilhoso, algo diferente de tudo que já vi antes!

- Por acaso é algo que faça as ovelhas se reproduzirem mais rápido, ou que possa tirar nossa barriga da miséria?

- Bem, acredito que não...

- Então não vale nada. Livre-se disso o quanto antes.

Desapontado, Typhos jogou a pedra nas caudalosas águas do Eufrates na tarde do dia seguinte.

***

Ahkbad era um pobre pescador das Gloriosas Terras entre o Tigre e o Eufrates, a Nação Mais Próspera do Mundo™. Um dia, ao lançar suas redes nas caudalosas águas do Eufrates, sentiu um peso muito maior do que o comum; prevendo a sorte grande, puxou-as o mais rápido possível. Sua decepção ao ver que não capturara tantos peixes quanto imaginara foi logo substituída pela curiosidade quanto ao misterioso brilho amarelado que se deixava entrever entre os peixes, e qual não foi sua fascinação ao descobrir que era uma reluzente pedra amarelada, diferente de tudo quanto já havia visto. Naquela noite, ao voltar para casa, dirigiu-se animado a sua esposa:

- Querida, hoje encontrei algo fantástico, a coisa mais bela que já vi nesse mundo!

- Por acaso essa coisa pode atrair os peixes para fora da água para que possamos capturá-los facilmente?

- Acho que não, mas...

- E ela pode ser comida? Já estou farta de peixe!

- Acredito que não, mas

- Então pare de preocupar-se com essa tolice e tente pescar mais peixes.

Amargurado, Ahkbad jogou a estranha pedra nas cristalinas águas do Tigre na manhã seguinte.

***

Samadia era uma pobre lavadeira e tecelã das Gloriosas Terras entre o Tigre e o Eufrates, a Nação Mais Próspera do Mundo™. Um dia, enquanto lavava roupas nas cristalinas águas do Tigre, sua visão foi ofuscada por um raio de sol refletido em seu rosto por alguma coisa no fundo do rio; curiosa, ela tateou a areia molhada até encontrar um fulgurante pedregulho amarelo, diferente de todas as outras pedras que costumavam repousar no leito do rio. Fascinada, ela a levou para casa naquela noite, com o intuito de mostrá-la a sua mãe.

- Mamãe – disse ela, naquela noite – Você não vai acreditar! Encontrei, no fundo do rio, algo que jamais se viu por aqui, uma coisa verdadeiramente maravilhosa!

- Essa coisa pode tirar a sujeira da roupa?

- Na verdade não, só que...

- E ela pode tecer roupas mais rapidamente do que nossos teares?

- Claro que não, mas...

- Então ela não tem valor algum. Desfaça-se dela e pare de me aborrecer com bobagens.

Decepcionada, Samadia colocou a pedra em um cesto de roupa lavada naquela mesma noite, para que fosse levada embora.

***

Enlil era o rico conselheiro real de Aurius, Nobre Imperador Supremo das Gloriosas Terras entre o Tigre e o Eufrates, a Nação Mais Próspera do Mundo™. Naquela manhã havia encontrado uma estranha pedra brilhante em seu cesto de roupa lavada, e agora apresentava-a a seu régio senhor como uma curiosidade.

- Nossos alquimistas passaram toda a manhã fazendo testes com essa substância, meu senhor, mas... – ele suspirou – parece que ela é totalmente inútil. É muito pouco resistente para fazer qualquer coisa que preste, e não apresenta qualquer outra propriedade interessante. Lamento informar que é apenas uma curiosidade geológica.

- Muito pelo contrário! – exclamou o Imperador, fitando fascinado a reluzente pedra amarela – Essa majestosa substância é digna de enfeitar a nobre fronte do Imperador e decorar seu suntuoso palácio! Eu declaro que essa é a mais nobre das substâncias existentes! Enlil, não poupe esforços para juntar a maior quantidade possível desse material maravilhoso e trazê-lo para cá, para que eu seja o ser mais rico de Gaia!

- Como quiser, senhor – acatou Enlil, confuso – Mas como deveremos chamar a substância?

- Ela deverá carregar meu nome – declarou Aurius, triunfante.

EPÍLOGO

- Sr. Presidente, parece que há bastante ouro negro nas Ignotas Terras entre o Tigre e o Eufrates, uma das Nações mais Pobres do Mundo™.

- Ótimo... inicie a invasão.

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NOTAS

*Obviamente, há algumas incoerências históricas, como o uso de alguns nomes gregos, mas eu infelizmente não sei muitos nomes mesopotâmicos (exceto pelo nome Aurius, é claro, que foi naturalmente um anacronismo necessário).

*O epílogo foi uma adição de última hora que não havia sido planejada como parte integrante da peça literária... fica como um toque humorístico (ouro negro = petróleo, para os leigos)

4 comentários:

Reggio Tartufo disse...

Curti (o epílogo nem tanto).

Não era sem tempo você postar algo, hein?

Flw.

ps: wndplho
ps2: hzomtfy

Anônimo disse...

tchubas, seu chato.
o epilogo está o mais engraçado.

joao, parabens por mais um texto mto criativo e inteligente.

abraço de 8 braços,
Polvo

Salpicão Mesquinho disse...

Tchubas, não postei no feriado porque seria um desperdício, já que a grande maioria de nossos leitores regulares estava no exterior. Aliás, como vc pode ter 2 p.s's? Por acaso vc digitou o primeiro errado? Huauahuhuahua

Flareda, muitíssimo obrigado

Reggio Tartufo disse...

Sim João. Eu cometi a incrível façanha de ser reprovado no teste: "Você é realmente um humano? Se sim digite esses caracteres corretamente."