terça-feira, 12 de maio de 2009

Manifesto pelo fim da família

Todos vocês já devem ter percebido que em nossa(s) antiga(s) escola(s) existiam pessoas que eram, com o perdão da palavra, escrotas, pra não dizer coisas piores. Infelizmente, o mesmo padrão se repete em todas as esferas sociais dessa esfera absoluta chamada mundo. Por que será?

Não, meus amigos, o Bola não acordou um belo dia e pensou "Ei, é legal ser babaca!". O "malandrex way of life" é resultado do jeito como essas pessoas foram criadas na infância - mimos, falta de atenção e de imposição de limites por parte dos pais, ausência de incentivo à leitura, entre outros, são coisas que contribuem para criar um adolescente e um adulto que apresentem comportamentos danosos em relação a certos setores da sociedade. Óbvio que eles também têm responsabilidade por suas ações, mas a estrutura do que eles são foi assentada na época de aprendizado da tenra infância; eles apenas expandiram (alguns com enorme sucesso, digamos) as estruturas mentais que já possuiam.

Qual o motivo disso? A lógica educacional inerente ao atual modelo de família nuclear (vulgo: Papi+Mamis+X Filhos). No mundo capitalista, em que todas as relações se definem pela posse, os filhos tornam-se mais uma das posses dos pais (mesmo que estes não o admitam, pelo menos conscientemente). Todo pai quer que o filho seja o MAIS inteligente, MAIS bonito, MAIS popular, MAIS querido, MELHOR atleta... enfim, que aquele proto-humano que eles mesmos criaram cresça e torne-se um vencedor. Sim, porque hoje em dia todo mundo aspira a vencer; mas o que todos parecem ignorar é que, para alguém vencer, alguém tem que perder... no extremo desse cenário, estão os pais que não se preocupam em dar a seus filhos uma formação cultural e social sólida, apenas em dar total liberdade a ele ("Porque o MEU filho merece; ele pode fazer o que quiser") e uma educação baseada no princípio de adaptação aos medíocres valores ideológicos da época para garantir destaque social - a tal da "vitória".

Já as perdas se dão em diferentes níveis da atuação social; no que se refere à linha de raciocínio estabelecida no primeiro parágrafo, quem perde são os que têm que suportar os Nahas da vida. Num âmbito mais generalizado, perdem aqueles que são forçados a viver em um mundo calcado no princípio da individualidade e da vitória pessoal. Sem contar que existem aqueles que nem chegam a ter uma chance de lutar na tal batalha pela vitória: só os filhos de famílias abastadas têm a chance de continuar no topo.

E onde está a raiz desse mal? Na tal da "família nuclear" (ou "família burguesa", como dirão os mais tendenciosos); enquanto os pais continuarem achando que o trabalho de educador e o de técnico esportivo são essencialmente o mesmo, o mundo continuará essa bagunça.

Qual a solução? Eu poderia tentar enumerar algumas medidas mais concretas, passíveis de implementação no mundo atual, mas é muito mais divertido (literariamente falando) elaborar uma sociedade utópica. Imaginem o seguinte cenário:

As crianças, ao nascer, não chegam a conhecer seus pais biológicos. São imediatamente levadas para berçários coletivos (conforme crescem, vão sendo transferidas para alojamentos coletivos separados por faixas etárias, onde passam a dispor de um grau crescente de independência), sustentados pelo governo. Sempre que possível, os adultos dedicam-se a cuidar das crianças, sem distinção entre elas; como os adultos não têm a noção de posse sobre as crianças (não existe "o MEU filho!" e "o filho dos outros..."), todas as crianças recebem doses iguais de amor e carinho (os adultos agiriam com a ética de um professor, que dá um tratamento supostamente igualitário a toda a classe, ajudando a todos na medida do possível). O governo encarrega-se de prover todas elas com uma educação igualitária e de qualidade; desse modo, as crianças são salvas da educação mesquinha e individualista proporcionada por algumas das famílias atuais. Além disso, podemos concluir que, mesmo que nessa sociedade exista desigualdade econômica, este não seria um mal crônico, como atualmente - afinal, a cada geração, as coisas recomeçam do zero: uma criança gerada por um casal pobre é tratada da mesma forma que a criança gerada por um casal rico. Por isso, todos têm chances iguais, e as diferenças de renda ocorreriam baseadas muito mais no esforço pessoal do que na predestinação.

A interação social também seria muito mais intensa nessa sociedade; afinal, não existem "filhos únicos", as crianças convivem o tempo todo com centenas de outras de sua faixa etária, além de receberem afeto de todos os adultos. Nesse mundo, haveria reduções drásticas nas taxas de ocorrência de psicoses, timidez, suicídio, entre outros males de raiz psicológica.

Talvez alguns rebatam essas propostas dizendo "Eu nunca aceitaria isso, porque é um absurdo que me levem meu filho de mim logo que ele nasce; eu gostaria de ter o prazer de criá-lo". O que essa pessoa não vê, talvez, é que nessa sociedade todas as crianças seriam seu filho; você não seria mais obrigado a direcionar todo o seu amor a uma única criança só porque ela carrega os seus genes. Ao ajudar na educação das crianças, cada pessoa experimentaria o prazer de criar um filho, só que infinitamente multiplicado, já que estaria ajudando a causar um impacto em uma porção muito maior do mundo.

Bem, enfim... chega de divagações por hoje.