terça-feira, 19 de agosto de 2008

Idéia para um filme

Na verdade, não é exatamente um filme. Mas, devido às características audiovisuais de minha idéia, que é uma cruza da literatura pós-moderna com o advento da tecnologia cinematográfica, creio que a oitava arte seja o gênero cultural no qual ela melhor se encaixe.

Já que já citei a literatura pós-moderna, creio que cabe chamar a atenção para o livro que me inspirou esta idéia: Rayuela (“O Jogo da Amarelinha”, na tradução para o português), de Júlio Cortazar. A grande sacada do livro é que ele não precisa ser lido linearmente – você pode tanto ler na ordem convencional como em uma ordem de capítulos elaborada pelo autor ou em uma ordem aleatória inventada por você. A idéia é que o leitor participe da criação da história tanto quanto o autor.

Nos últimos dias estive a pensar (construção sintática, aliás, muito mais usada em Portugal do que no Brasil, mas isso não vem ao caso agora) como se poderia traduzir este conceito revolucionário para a mídia audiovisual. Minha idéia foi filmar várias cenas mais ou menos relacionadas e depois gravá-las em um CD, junto com uma interface programada. Ao inserir o CD em seu computador, uma cena inicial seria exibida, e depois você teria um leque de cenas dentre as quais deveria escolher para definir como continuaria o “filme”. Cada cena escolhida seria obviamente removida das próximas opções, para evitar repetição. Assim, ao assistir todas as cenas numa ordem escolhida por ele próprio, cada espectador teria uma experiência única e possivelmente diametralmente oposta daquele de outro espectador. Para exemplificar, considere as seguintes cenas: uma cena A na qual um certo casal briga, e uma cena B na qual esse casal é visto caminhando silenciosamente pela cidade e, ao chegar em um pier (localização escolhida tão somente por sua atmosfera romântica), se beijam. Um espectador que assisti-las na ordem A – B (ou A – X – B ou qualquer outra ordem, desde que A preceda B) será levado a entender que os dois se reconciliaram, enquanto que uma outra pessoa que assisti-las na ordem B – A pensará que presenciou o último encontro de um casal em conflito, antes da iminente briga e separação. Ou seja, apesar de presenciarem o mesmo conjunto de cenas, os dois viram histórias diferentes com interpretações diferentes. Adicione-se a isso um número de cenas maior do que 2 (ah, a boa e velha análise combinatória) e as possibilidades são imensas.

Desnecessário dizer que tal empreitada seria complexa e teria de ser muito bem planejada. Ainda não pensei em todos os detalhes acerca de sua realização – por exemplo, o espectador teria alguma noção do que são as cenas entre as quais tem de optar, ou sua escolha seria aleatória? – mas acredito que seria uma idéia bem interessante para se tentar no futuro.

(Um post relativamente curto para compensar as recentes verborragias)

2 comentários:

Reggio Tartufo disse...

Não sei se possuiria o dinamismo que o cinema exige, ou melhor, que quem busca o cinema deseja. Mas a idéia é de fato interessante.

Avestruz Fumeta disse...

david lynch faria esse filme com você...