sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Quer jogar no meu time?

O menino estava só. A menina também, ao que lhe constava. A escola era comum, os assuntos eram comuns e até mesmo os amigos eram comuns aos dois. Em suma, tratava-se de uma comunhão.
Um amigo dele, que era também dela, certa vez fez despertar no primeiro um comichãozinho no coração. Venhamos e convenhamos todos aqui sabemos que “comer e coçar é só começar”. Ele, então, coçava ali, acolá e pensava e dizia e exclamava:
- Ui, ai, ahhh, ufa.
E parava. Mas dali a pouco recomeçava. E assim foi indo até que aquela sensação prazerosa resultou num verdadeiro e insustentável prurido e ele se viu obrigado a tomar uma atitude. Estava decidido a se confessar com aquele mesmo amigo, o anteriormente citado.
No dia seguinte, pela manhã, o carinha abordou seu, em instantes, confidente:
- João, posso falar-lhe?
- Ora pois, se já principiou.
- João, não é tempo de brincadeiras. Tenho um assunto sério a resolver e queria auxílio, talvez você pudesse me aconselhar.
- Você sabe o que dizem sobre conselhos?
- Não, o que é dito acerca dos conselhos?
- Que se fosse bom ninguém dava, vendia. Os meus, entretanto, são garantia de sucesso, portanto só os forneço mediante pagamento prévio.
- João! Você está falando sério?
- Sim, sim, sim. Pois é, pois é, pois é. O mundo gira em torno do capital.
- AH! Então enfia o capital no **.
E foi-se. Estava cheio de raiva e ainda mais perturbado, mas não ia desistir, falaria ele mesmo com ela. Reuniria toda sua coragem e chegaria junto. Lá foi ele.
No intervalo ele topou com ela no corredor e disse:
- Oi! Tudo bem, eu precisava discutir um determinado assunto com você. Seria possível?
- Claro, pode falar.
- Certo, é o seguinte. Eu jogo futebol, mas eu estou sem time. Você também joga futebol e também está sem time. Eu estava me perguntando, e agora estou te perguntando, como você poderá perceber graças à entonação da minha voz ao final da próxima frase (ou ao sinal de interrogação ao final do próximo período), se você não gostaria de jogar no meu time. E aí? Quer fazer dupla de zaga comigo?
- Ahn, eu preciso pensar. E acabei de me lembrar que eu tenho que correr até a biblioteca pegar um livro emprestado. Façamos o seguinte, a gente se encontra mais tarde, na hora do almoço, no campão. O que acha?
- Legal, pode ser. Até mais.
Ela saiu correndo como prometera e ele ficou estático observando seus cabelos cor de coca-cola esvoaçando ao vento.
Obviamente, ele não conseguiu se concentrar nas aulas seguintes, só conseguia pensar no desfecho daquela história, que ele conheceria dentro de um curto espaço de tempo, e que significaria um verdadeiro fim ou novo e belo início.
Tão logo soou o gongo ele correu sala a fora, rolou escada a baixo e tomou a direção do campão. Chegou e esperou. Sabia que estava adiantado, mas ela também estava demorando.
Putz! E o visu?
Nem se lembrara disso. Fez o que pode, deu o melhor laço de cadarço de tênis que conhecia, o nó indo-coreano, penteou os cabelos com os dedos, alinhavou suas roupas e continuou na espera.
Mais alguns minutos. A ansiedade crescia, e nada, nada dela chegar. Ele então começa a andar de um lado para o outro, para frente e para trás. Até que alguém chama sua atenção:
- Oí.
Ele então se vira, o sorriso, de orelha a orelha, estampado no rosto e se depara com:
- Oi. Quem é ele?
- Você não o conhece? Esse é meu namorado. Ele também adora futebol e no momento não está jogando em nenhum time...

Moral: No amor, bem como na guerra, e bem como em qualquer outra situação, evite ao máximo o uso de metáforas, elas raramente são compreendidas.


Obs.: Esse texto foi inspirado pela minha mais nova velha (em alusão ao fato de que, na realidade, a conheço há um bocado) best. Por esse motivo, achei justo que o mesmo a ela fosse dedicado.

P.S.: Não fiquem mal acostumados com essa história de duas postagens seguidas, ou mesmo com a volta de postagens frequentes. elas só ocorreram porque seresta me inspira por demais e merecia uma atenção especial, uma homenagem e porque o texto de hj estava pronto, esperando apenas o momento ideal a ser publicado.

8 comentários:

Anônimo disse...

ótima moral...

Salpicão Mesquinho disse...

Quem é a gatinha que inspirou essa epopéia?

Reggio Tartufo disse...

c é engraçado em João - hehee. Isso não é mais importante (na questão temporal) e tbm não é mais importante do que a moral do texto... que fico feliz que meu amigo Flavio tenha apreciado.

Anônimo disse...

gostaria de postar aqui a letra de uma musica que tem tudo a ver com essa história:

Is It Luck?
My socks and shoes always match
Is it Luck?
There's a foot at the end of each of my legs
Is it Luck?
I can play my bass for you
Is it Luck?
Some gals like to kiss my face
Is it Luck? Is it Luck?
There was food inside your mouth today
Is it Luck?
Your barber cuts your hair just so
Is it Luck?
When the taste of sex is on your lips
Is it Luck ? Is it Luck ?

Cyanide works oh so fast
Is it Luck?
Polyester makes you sweat
Is it Luck?
If a graham cracker gets you off
Is it Luck
Love. Love ?
Is it Luck ? Is it Luck ?

Anônimo disse...

uma outra possível moral:

aceite os conselhos de joao

Reggio Tartufo disse...

Amigão Polvo, muito interessante sua letra.

Quanto a outra possível moral, ela foi de fato pensada por mim, mas não a inseri pq queria frisar a q pus. mas a tinha pensado algo do tipo: não hesite em pagar por conselhos... algo assim.

hehe

flw.

Anônimo disse...

hehe

great minds think alike

Reggio Tartufo disse...

Ermenegildo Zegna.

pegou? entendeu a piada?
(aposto q n. só algm muito tonto como eu presta atenção nisso, pra fazer essa piada.)